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segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Indígena


A SIMPLICIDADE DE UM VÔO

Atravessar aquele deserto a cento e vinte quilômetros por hora, em seu carro preto, ouvindo um dos seus rocks predileto, era algo extremamente prazeroso.A liberdade não tinha limites naquele momento, se sentia um falcão atravessando o Texas movendo-se sobre o universo que habitava, sentia todos os movimentos da criação, o filme estava sendo rodado e ele era o ator principal, o mocinho o vencedor.
Andrew estudara física sete anos de sua vida para encontrar a tão sonhada resposta: o porque desta vida ? Porque era tão simples estar vivo e ao mesmo tempo tão complexo de explicar a existência humana? Sempre se fascinava com os porquês da vida, era seu dever como cientista tentar compreender o que era o infinito, o universo, as galáxias.Isso o deixava um pouco desapegado deste mundo, sempre fora um homem solitário, criara seu próprio mundo e ninguém podia tira-lo de lá. Havia duas saídas de seu mundo: a primeira e mais fácil era a loucura, a segunda e quase impossível era de alguma forma encontrar a teoria que revelaria todo mecanismo cósmico.
Com seus anos de estudos, chegou a criar varias teorias para explicar o mundo, mas nada de exato.Para a ciência a existência de Deus era algo fora dos padrões da verdade, e Andrew se dividia em dois, porque de uma certa forma acreditava em Deus e sempre se apoiava na frase do grande filosofo Sócrates: “só sei que nada sei”.
O físico tem um lado místico que precisa se despertar pensava ele, para assim tentar conciliar os dois motores que buscam a verdade do cosmos: a ciência e a espiritualidade.
A idéia de sua viajem para o México, surgiu quando leu os livros do escritor Carlos Castañeda, um antropólogo que passara dez anos tendo experiências místicas com o xãman Don Juan Matus, um índio sábio que levou Castañeda a escrever vários livros.Através da mescalina substancia extraída do peiote, o bruxo don Juan fazia castañeda transcender a uma percepção de mundo totalmente diferente a que estava habituado.
Varias lendas dizem que os xãmans são muito poderosos e que podem se transformar em animais, manter contatos com os mortos, atravessar mundos paralelos e sua cultura e filosofia é extremamente sabia.Andrew estava atrás do mistério que rondavam esses seres humanos dotados de poder, e se algum deles pudesse ajuda-lo na sua busca espiritual.
No velho oeste mexicano sempre se conta a historia de Paco Medina, antigo xãman da tribo luna de fuego.Paco e seus índios atravessavam o México a cavalo, lutando contra o poder dos pistoleiros que queriam dominar o país. O poder do mestre era imenso, em um combate Paco se transformou em um lobo feroz diante de todos e derrotou vários pistoleiros, imprevisível eram as ações do mestre índio, que fazia o céu abrir e se fechar como se estivesse abrindo uma janela.Paco era considerado a encarnação de uma legião de guerreiros indígenas, seu nome percorreu por vários anos no México até o dia de sua morte.
A morte para ele era a realização do todo, num ritual mágico todos os índios da tribo se reuniram no deserto para se despedirem de Paco que dizia que naquele dia se uniria ao universo.Ele subiu em um monte enquanto os índios dançavam e cantavam aos seus pés, os ventos começaram a soprar e o céu parecia um oceano turbulento.Paco ergueu seu machado e gritou algumas palavras mágicas, em um momento seu corpo se desfez e no infinito se uniu.O mestre agora pertencia a todos os lugares; mais lendas surgiram depois de sua morte acredita se que Paco Medina o grande guerreiro indígena volta como um lobo para condenar os injustos que habitam o México.
As lendas deixavam Andrew empolgado, estava louco para sentir se no deserto e tentar se unir ao universo como faziam os xãmans. Na estrada a mil por hora observava bem as paisagens, parecia que elas queriam dizer algo. O vôo dos falcões rasgava o tempo ao seu redor, o por do sol brilhava em sua alma, estava se sentindo divino e á toda velocidade.
Quando chegou no México parou em um bar para comer algo, estava cansado e com fome viajara um bom tempo ate chegar á fronteira.O bar estava repleto de pessoas, tinham vários viajantes e alguns nativos.Andrew se sentou e pediu um café para a garçonete que lhe atendeu com carisma, perguntou a ela se conhecia uma velha cidade chamada el Valle Del viento.A garçonete fez uma cara de espanto e disse que nunca ouviu falar dessa cidade.Andrew percebeu algo estranho na moça, depois de ter perguntado a ela sobre a cidade, a garçonete começou a conversar com um nativo olhando para Andrew, o nativo tinha cabelos longos, e com certeza era indígena.Andrew terminou seu café e fez mais perguntas as pessoas do bar, mas ninguém sabia dizer onde ficava a tal cidade.
Quando entrava em seu carro, foi surpreendido pelo mexicano que estava com a garçonete.O índio disse que ele não era bem vindo naquele lugar e que deveria voltar o mais rápido possível para sua terra.Andrew não se abalou com as ameaças do índio e seguiu seu caminho.
Seu carro corria sobre o deserto, só se ouvia o motor de seu possante e ruídos de lobos e corujas, a lua cheia era como um sol refletindo vermelha sobre o grande vazio de pedra e mistérios que cobriam aquele lugar. Sempre a refletir sobre os mistérios de sua natureza resolveu parar o carro e desafiar um sentimento às vezes imbatível, o medo.
Fora do carro começou a caminhar sobre o deserto, uma coruja pousou na sua frente, ela era imensa e com olhos fervorosos, Andrew se assustou sentiu um profundo medo, mas não se abalou e seguiu enfrente. O medo sempre foi algo que buscava superar, pensava que através desta proeza poderia com coragem desafiar os mistérios humanos. Sentou-se em uma pedra e começou a observar o céu que estava todo estrelado, quando ouviu galopes de cavalos, eram muitos, mas não conseguia enxerga-los, o som dos cavalos se aproximava, mas não enxergava nada.Começou a subir uma poeira ao seu redor e no mesmo instante ouvia os galopes, mas sua visão não acompanhava sua audição.Andrew correu em direção ao seu carro e sentia que os galopes estavam a lhe perseguir, caiu no chão desesperado, quando tentou se levantar viu o nada em que olhava se transformar em índios a cavalo, seu espanto passava seus limites. Como poderia o nada e vazio virar índios?Um deles era o nativo que o queria expulsar do México, e junto com ele haviam mais quatro, um deles desceu do cavalo e lhe deu um cascudo na cabeça que o fez desmaiar.
Ao acordar já era de manha e Andrew estava encima de um imenso cânion, não conseguia enxergar direito, estava zonzo a luz do sol estava muito forte, percebeu que estava ao lado de um índio bem velho, o índio lhe sorriu e disse:
_ Vou te mostrar o caminho daquilo que procura.Andrew meio assustado perguntou:
- Como cheguei aqui quem é você?
- Chega de perguntas idiotas, você nunca vai encontrar o que busca sempre agindo da mesma maneira.
- Você é um xãman? Perguntou Andrew.
Não, sou aquela águia que está ali voando.Ao olhar para águia sentiu tudo se dissolver, não havia mais perguntas, não havia mais xãmans, não havia mais deserto, não havia mais mistério a simplicidade e magia que existe no vôo da águia fez Andrew sentir-se uno a tudo que existia, sendo assim compreendeu o universo

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